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Os Gabinetes de Curiosidades (ou Quartos das Maravilhas) viraram moda entre soberanos e nobres metidos a intelectualebas durante os séculos XVI e XVII na Europa. Neles ficavam guardados todo tipo de objetos que fossem considerados raros: quadros, antiguidades, animais esquisitos empalhados, insetos secos, conchas, pedras, fósseis, esqueletos, instrumentos científicos, etc. Um dos mais célebres foi o que o imperador Rodolfo II mantinha em Praga.
Eu mesma tive meu gabinete de curiosidades quando criança: um bauzinho de madeira escura, forrado de veludo vermelho, onde guardava tudo quanto era quinquilharia. Meu "acervo" contava com peças raríssimas como: dois filhotes de libélulas (uma verde e uma azul fosforecente); um escaravelho; borboletas pequenas; duas imagens pequenininhas (daquelas pra colocar no porta-níquel) - uma de Santo Antônio e outra de Santo Onofre; três caroços de romã daquelas simpatias de Ano Novo; um bonequinho do Pica-pau que achei na rua; algumas moedas antigas do tempo do Império; quatro botões de roupinha de bebê com desenhos de bichinhos; alfinetes de fralda do Mickey e do Pato Donald; conchas de Cabo Frio; uma ametista; plásticos com desenhos de personagens Disney que vinham na parte interna das tampinhas de Mineirinho (ou seria de Grapette?); fichas redondas coloridas que eles entregavam nos ônibus; um montão de gravuras de papel com imagens de santos; uma bússola; uma lupa; selos; etc.
Quando você visita o Museu Narodni (=Nacional) em Praga - não confundir com a Galeria Narodni (que exibe um ótimo acervo de pinturas: tem uma do Bronzino que eu amo e está ilustrada aí na parte lateral do blog) - pode ver animais estranhos e raros empalhados que bem podiam estar num gabinete de curiosidades. Realmente, muitos dos objetos que faziam parte dos Gabinetes de Curiosidades passaram a integrar, posteriormente, nos séculos XVIII e XIX, o acervo de museus de arte e história natural por toda a Europa.
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Rodolfo II Habsburgo (1552-1612) - visto nas pinturas acima - foi Imperador do Sacro-Império Romano Germânico, Rei da Boêmia e da Hungria. Filho de Maximiliano II e Maria da Espanha (filha de Charles V e Isabel de Portugal), nasceu em Viena e foi educado na corte de seu tio Filipe II da Espanha. Seu gosto pelas ciências naturais e ocultas, astrologia e artes transformou-o num grande mecenas e talvez num dos personagens mais excêntricos de sua época. Ele chegou a "colecionar" anões e a manter um regimento de gigantes em seu exército. Em sua famosa corte, em Praga, vivia cercado de astrólogos, astrônomos (Tycho Brahe e Johannes Kepler), alquimistas (John Dee) e artistas (Giuseppe Arcimboldo, que pintou seu "Vertumnus" retratando Rodolfo). Rodolfo mantinha seu próprio laboratório alquímico, onde realizava experimentos a fim de descobrir a Pedra Filosofal. Quando jovem, teve seu mapa astral preparado por ninguém menos que o próprio Nostradamus.
Rodolfo nunca se casou e diziam que ele era homossexual, entretanto, ele teve vários filhos bastardos. Um deles ficou famoso pela sua crueldade (e dizem que ele assombra o Castelo de Český Krumlov), mas, deixarei para contar essa história (digna de filmes de terror) no próximo post.
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Rodolfo II e Tycho Brahe.
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"Rodolfo II como Vertumnus" (Giuseppe Arcimboldo, c.1590).
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