segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

As desventuras de Maximiliano e Charlotte



Maximiliano Habsburgo e Charlotte da Bélgica.

A princesa Charlotte da Bélgica (1840-1927) era filha do rei Leopoldo I (1790–1865) com sua segunda esposa, Louise-Marie da França (1812–1850). Ela recebeu este nome em homenagem à primeira esposa do pai, Charlotte de Gales. Era a neta preferida da rainha da França, Marie Amélie das Duas Sicílias (esposa de Luís Filipe) que foi também sua grande amiga e confidente. Charlotte perdeu a mãe, vítima de tuberculose, quando tinha apenas 10 anos, ficando aos cuidados de uma amiga da família, a condessa de Hulste. Em 1857, ela se casou com seu primo Maximiliano (1832-1867), arquiduque da Áustria.



Rei Leopoldo I da Bélgica com a esposa, Charlotte e os dois filhos.


Retratos de Charlotte quando pequena e adolescente.

Max era filho do arquiduque Franz Karl e da princesa da Bavária, Sophia Frederica, e, por conseguinte, irmão do imperador Franz Joseph (que era casado com minha "ídola" Sissi). Essa Sophia Frederica devia ser uma daquelas velhas insuportáveis e infernizou a vida da pobre coitada da Sissi o quanto pôde. Entretanto, desde o início, ela simpatizou bastante com Charlotte. Ao que parece, ela tinha o hábito de fazer comentariozinhos irônicos comparando suas duas noras, deixando claro que Charlotte era uma princesa e tinha sido educada para tal, ao contrário de Sissi. Talvez esse tenha sido um dos motivos que fizeram com que Charlotte e Sissi se "estranhassem" de vez em quando. Outro fato que contribuiu para estabelecer um clima ruim entre as duas foi a amizade e as afinidades existentes entre Sissi e Maximiliano, que eram amantes das artes e ciências em geral - o que deve ter enciumado bastante Charlotte. Segundo os fofoqueiros de plantão da época, Maximiliano seria filho bastardo de Sophia Frederica com Napoleão II e ela nunca teria se recuperado da morte deste último. Será?!
Agora vem a parte mirabolante da história...
A milhares de quilômetros de Viena, no México, estava rolando a maior confusão entre monarquistas e republicanos que culminou com uma intervenção da França no país. Vai entender o que se passava na cabeça do imperador da França, Napoleão III (casado com Eugénie de Montijo), pra se envolver numa empreitada dessas. E, o pior, o que se passava na cabeça do Max pra aceitar ser, digamos, "laranja" do imperador da França e proclamar-se "imperador do México"! E dizem que foi a Charlotte quem encheu a cabeça de Max pra aceitar, já que para isso ele teria que renunciar aos seus direitos ao trono da Áustria. E bem que a avó dela, Marie Amélie, foi contra, antevendo que essa aventura rocambolesca ia terminar muito mal...
E os EUA, não fizeram nada? Pois é, quando isso aconteceu (1863-64) eles estavam ocupados com a Guerra de Secessão... Max e Charlotte mudaram-se "de mala e cuia" para o México e foram coroados em 1864. Mas - agora é o momento de levantar aquele cartazinho escrito "EU JÁ SABIA!" - alguns meses depois, Napoleão III mandou retirar todas as tropas francesas do México e nosso querido e aventureiro casal ficou entregue à própria (má) sorte. O negócio piorou quando acabou a Guerra de Secessão e os EUA estabeleceram um bloqueio, que impedia o envio de reforços para Max, e, ainda por cima, passaram a fornecer armamento para os republicanos...
Charlotte entrou em pânico e pegou o primeiro navio pra Europa a fim de conseguir auxílio para seu marido. Se fosse eu teria arrumado minhas trouxinhas e voltado pra Bélgica bem rápido...Em Paris, Napoleão III descaradamente recusou-se a recebê-la e, depois de muita insistência, disse que não podia ajudar Maximiliano. Em Viena ela também não conseguiu nada e, finalmente, seguiu para Roma na tentativa de que o Papa Pio IX intercedesse por eles. Lá ela teve uma crise nervosa ou coisa parecida (deve ter quebrado tudo, sei lá...aqueles tapetes e vasos caros, um montão de obras de arte...xiii) e o Papa acabou tendo que hospedá-la no próprio vaticano...
Enquanto isso, no México...
Max que era muito idealista (ou tonto mesmo) recusou-se a fugir e decidiu enfrentar o cerco dos republicanos, liderados por Benito Juarez, com a meia dúzia de homens que havia sobrado. Acabou sendo capturado em maio de 1867, sendo sumariamente julgado e condenado à pena de morte! Não foi por falta de aviso, né?!Apesar dos muitos telegramas (?!) de monarcas europeus e figuras proeminentes como Victor Hugo (o famoso escritor, autor de "Os miseráveis") e Giuseppe Garibaldi (aquele mesmo, que casou com a Anita) que foram enviados ao México pedindo pela vida de Max, o tal do Juarez não cedeu. Eu, particularmente, achei muita baixeza desse cara, pequenez de espírito, bem se vê que não era um gentleman, não tinha um pingo de civilidade. Se fosse Júlio César certamente teria liberado o cara, como ele fez tantas vezes...Mas o cara era um daqueles populistas revoltados que adoram aparecer pra mídia e fazer uma moral com os descamisados "afirmando a soberania" de seus países...
O fato é que Maximiliano acabou sendo executado por um pelotão de fuzilamento em 19 de junho de 1867 em Cerro de las Campanas. Coitado... E Charlotte, que ainda estava na Europa procurando ajuda para o marido, enlouqueceu de vez e passou o resto de sua vida trancafiada em castelos - primeiro no Castelo de Miramare (entre 1866-67) em Trieste e, depois, no Castelo de Bouchout na Bélgica. Ela morreu em 19 de janeiro de 1927...




"Execução do imperador Maximiliano" (1867). Edouard Manet.

3 comentários:

Anônimo disse...

que desgraceira a vida desses dois, aff! coitados...

Nádia disse...

Adorei seu blog! Também já estive no ICTP fazendo um curso no ano passado. Legal saber dessas histórias sobre Miramare.
Abs.

Danielle disse...

Nossa, também adoro a Sissi e leio tudo sobre ela. Muito bom seu blog! Vc tem sorte de ter a oportunidade de conhecer todos esses lugares e ver pessoalmente onde aconteceram todas essas historias...